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Sua advocacia é 4.0?

Nos tempos atuais, não é o mais forte ou o mais inteligente que sobrevive; já passou da hora de os advogados e escritórios se adaptarem ao novo mundo.


Estamos atravessando a 4ª Revolução Industrial (ou 5ª para os mais apressados), marcada pela forte presença da tecnologia nos processos produtivos. Com os avanços tecnológicos do século XXI, houve o crescimento exponencial do volume de dados disponíveis, aliado ao processamento mais acessível de imensas quantidades de informações. Não é de se surpreender, portanto, que a inteligência artificial, a internet das coisas (IOT), o sistema de redes neurais e a cibernética estejam inundando as linhas de produção.


Se não bastasse, o contexto atual – VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity) ou BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear e Incomprehensible) – tem levado as empresas, cada dia mais, a revisitar os seus produtos e serviços, já que a tríade que sempre norteou as atividades (preço, tempo e qualidade) foi desbancada.

Hoje, as pessoas buscam experiências quase perfeitas, quase de graça e praticamente imediatas, e há muitos prestadores em todos os segmentos que realmente proporcionam essa possibilidade com o auxílio da tecnologia.


No universo jurídico não poderia ser diferente!


Advogados são responsáveis por gerir relações dos mais diversos matizes, contenciosas ou consultivas. Não obstante, essas mesmas relações não comportam mais a atuação jurídica de outrora: engessada, morosa, indecifrável e com decisões ilhadas.


Apesar de todo o tradicionalismo e o formalismo (por vezes, burocrático) inerente ao meio jurídico, advogadxs e escritórios de advocacia necessitam se reinventar. Até porque, somado à modernidade líquida que vivemos, vemos a crescente comoditização da advocacia. A competição é forte, acirrada e, infelizmente, a briga pode acabar sendo pelo “melhor” preço.


Como é possível, então, acompanhar todas as mudanças do mercado sem sucatear os serviços prestados? A resposta passa pela modernização da advocacia: a advocacia 4.0.


A advocacia 4.0 tem como característica o desenvolvimento de novas competências técnicas e comportamentais pelos profissionais do direito, para que se consiga acompanhar a revolução que estamos vivendo e prestar serviços com maior valor e menor custo.


Surgem novos ramos, novas metodologias e, principalmente, uma nova cultura, como norteadores dos serviços que compõe a advocacia 4.0.


Uma de suas bases é definir o propósito do negócio. Muitas marcas despontam no mercado pelo propósito que sustentam, o que evidencia a importância de refletir sobre o Golden Circle da organização, comumente deixado de lado nos escritórios. São poucos os que identificam o real intento das suas atividades, quanto mais estando atentos à necessidade de promover ambientes mais inclusivos e diversos, até como forma de transformação social.

A despeito da vedação da OAB à mercantilização da advocacia, já passa da hora de aplicar à administração dos departamentos jurídicos das empresas e dos escritórios de advocacia técnicas de gestão. Assim como toda atividade inserida no mercado, é imprescindível a definição do planejamento estratégico delimitando os rumos da atividade, além de objetivos e indicadores-chave capazes de evidenciar se o caminho pretendido está sendo seguido. De nada adianta os sócios/gestores definirem os rumos da organização sem que haja um planejamento estruturado e divulgado internamente. Afinal, como os profissionais poderão aderir ao planejamento se sequer o conhecem?


Para a tomada de decisão, o embasamento em dados traz robustez e contundência. Mesmo diante da dificuldade de se aproveitar a big data desestruturada do nosso judiciário para alguns nichos da advocacia, não deve ser desperdiçada a utilização da small data formada pelos trabalhos desenvolvidos pelo próprio escritório e/ou departamento jurídico. Isto é, a cultura orientada a dados é capaz de extrair inteligência dos próprios trabalhos desenvolvidos, auxiliando os profissionais, escritórios e departamentos jurídicos a analisar o cenário de forma diagnóstica, descritiva, preditiva ou prescritiva.


Além disso, aliando a gestão eficiente da atividade à tecnologia, cultura de dados e controladoria, surgiu o Legal Operations, nova área do direito que é tendência mundial. Segundo o Corporate Legal Operations Consortium (CLOC), Legal Operation seria o “conjunto de processos de negócios, atividades e profissionais que permitem que os departamentos jurídicos atendam seus clientes de maneira mais eficaz, aplicando práticas comerciais e técnicas à prestação de serviços jurídicos.”


Para estar aderente aos interesses dos clientes no atual contexto, é preciso reavaliar ainda a tomada de decisões quanto à estratégia contenciosa. Nem sempre a melhor saída para o cliente é a contenda, mesmo que ele tenha a legislação e/ou jurisprudência a seu favor. Essa mudança de postura, que começa a se desenhar com mais força na advocacia brasileira, somada à utilização da tecnologia e à análise estatística dos dados (jurimetria), permite reavaliar a judicialização ostensiva, tão custosa às empresas. Isto é internalizar o Litigation 4.0.


Outra característica não só do Litigation 4.0, mas que neste caso funciona bem, melhorando a elaboração de documentos e, consequentemente, contribuindo para a solução de problemas, é o uso de técnicas de design em peças jurídicas. O design nos permite identificar os principais pontos de atenção em ambientes caórdicos. Por meio da estrutura do design thinking, que pressupõe a criação humanizada, há a imersão nos desafios e dores que precisam ser solucionados, partindo para profusão de ideias que são clusterizadas, prototipadas e colocadas em práticas o mais rápido possível em ambiente controlado (fail fast). Assim, são alcançadas soluções certeiras e ágeis, exatamente como o mercado tem exigido.


Ainda na seara do design, saber transmitir de forma visual e direta as ideias, seja em trabalhos de consultoria ou de contencioso, tem se mostrado uma vantagem competitiva. Não se trata de embelezar as produções jurídicas. Trazer as técnicas do design para o universo do Direito é traduzir a produção jurídica por meio do Visual Law para que seja inteligível de maneira rápida para os seus destinatários que, na maioria das vezes, não são advogados e/ou estão assoberbados de trabalhos e sem tempo para preciosismos.


Nas relações com os colaboradores das equipes, o efetivo exercício da liderança é outro pressuposto de atuação da Advocacia 4.0, exigindo dos líderes o desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais antes ofuscadas pelo exercício da acurada advocacia. As estruturas tayloristas engessadas têm apresentado entraves aos gestores por não fomentarem a progressão de carreira para muitos profissionais. As estruturas em rede, o modelo mental das novas gerações e os conflitos geracionais evidenciam a necessidade de conferir mais autonomia aos profissionais, exercer a escuta ativa, fazer perguntas abertas e dar feedbacks constantes, transformando a liderança heróica de comando e controle em liderança anfitriã.


Nessa toada, a estruturação em rede e a aplicação de metodologias ágeis para ajustar a rotina de trabalho podem fazer maravilhas. Idealizadas para o desenvolvimento de softwares, as metodologias ágeis estão inundando o meio jurídico. A mudança constante durante a evolução dos trabalhos é possivelmente a principal característica que aproxima essas realidades e faz com que o agilismo caia como uma luva na realidade que vivemos, porquanto idealizado para lidar com ambientes complexos.


Com isso, se está fixo na ideia de que presta um serviço de qualidade e por isso está garantido no mercado, certamente a sua advocacia não é 4.0! Mais do que isso, talvez não consiga acompanhar todas as mudanças que estamos vivenciando!


Não restam dúvidas de que ser um bom profissional do direito atualmente exige competências que vão muito além do domínio da legislação, do entendimento jurisprudencial e do silogismo. Os novos vieses aqui expostos são apenas alguns exemplos da transformação na qual estamos inseridos.


Há muito tempo a qualidade técnica e o atendimento personalizado deixaram de ser diferenciais competitivos e passaram a ser pressupostos para estar no mercado. O sarrafo está cada vez mais alto e é imprescindível estar aberto a mudanças, especialmente porque o que fez muitos se destacarem outrora já não os sustenta atualmente.


Ser advogadx 4.0 é, portanto, estar ciente que é imprescindível mudar, embora aparentemente intimidador. É saber que a escrita repleta de “juridiquês” deu espaço a novas formas de se comunicar. É despertar para a necessidade de não ser reativo, de fazer diferente e de aceitar que outras áreas têm muito a nos ensinar. É estar aberto a novas formas de decidir e de trabalhar. É, acima de tudo, aceitar e aderir à nova mentalidade, voltada para pessoas, gestão, tecnologia e inovação!


Aderir à advocacia 4.0 não é modismo pueril. Ao que tudo indica, é uma questão de sobrevivência!





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